Crônicas, Contos, Pensamentos, Poesias e Teatro

Contos, Crônicas, Poesias e Teatro
Pensamentos e Reflexões

terça-feira, 13 de abril de 2021

Mais ideias para adiar o fim do mundo!!!


 

 Ontem li uma coisa tão bonita, do Ailton Krenak: "Muitas dessas pessoas não são indivíduos, mas
pessoas coletivas, células que conseguem transmitir através do tempo suas visões sobre o mundo" do livro Ideias para adiar o fim do mundo.

Nesses tempos difíceis um livro ou seriado, tem sido um refúgio, um respiro, um desencadear de pensamentos para minha criação. Precisei parar um pouco com os noticiários, não é negacionismo não, estou ciente de tudo, vivendo real na pele a pandemia, isolada porque posso, faz mais de um ano. Eu e meu marido em casa. Graças a Deus os dois trabalhando, ele home office e eu onde sempre estive.

Mas existem outras pessoas, existe um mundo lá fora que todos nós precisamos. Risadas entre ruas, conversas ao pé do ouvido em bares barulhentos, ai o bloquinho do bairro!! Já avisei que quando a pandemia passar..., eu vou lá, eu vou lá..., dançar até o dia raiar, de meia calça arrastão rasgada e maiô esgarçado! Flor no cabelo, batom vermelho borrado!! Quando a pandemia passar vou me enfeitar de purpurinas ecológicas que nunca mais vão sair....

Quando a pandemia passar, talvez não passe? Não quero falar das coisas tristes, porque não há mal que sempre dure. Vai passar e vamos nos encontrar, festejar, cantar e dançar! Vamos saldar com louvor os que foram e não conseguimos nos despedir, não vamos falar de coisas tristes. Vai ter carnaval, Copa, Olimpíadas, teatro, as novelas..., essas me perderam como atriz e como telespectadora voraz! Se existe uma coisa boa nesses tempos foi a Netflix, HBO, Amazon e seus seriados, do que vamos pensar agora? Em italiano, francês, árabe, espanhol, hebraico ou português?? Sobre o que vamos viver?

Anne com E me fez entender quem sou! Ela quer tudo percebi que estou exatamente no caminho certo! Cidade Invisível quero ser como a Cássia Kiss, estou quase pronta para fazer uma mulher mística, uma bruxona! Vis a Vis aprendi a ser vilã, em Suburra minha cidadania italiana gritou! Euphoria e a saudades da minha adolescência. Casa de Papel vontade de tramar, pegar uma grande cartolina e desenhar uma dramaturgia de gerações! Gritei alto com o Curupira de Cidade Invisível, na verdade gritei alto a cada desvendar de personagem, Saci, Cuca, minha infância! Pico da Neblina!!!! Pose me levou diretamente aos anos 80 e a enterder e me apaixonar mais pelo público Lgbtqia+. Baseado em fatos raciais uma verdade que demorei para entender.

Essa lista não termina nunca, me arrependo de não ter anotado e fichado, estilo aula de redação cada seriado que assisti. Diferente das novelas que te prendem por 1 ano no mesmo enredo, com os mesmos atores e finais. Intermináveis, macarronescas, burras e possessivas. Me sinto livre como um passarinho quando meu marido me convida para assistir um seriado, o mais próximo a: _Topa um cineminha? Já vou organizando o espaço!

Sem negacionismo, mais arte, mais livros e histórias!!

Meu livro, meu trabalho, meu olhar, 

http://www.ficcoes.com.br/livros/naoqueroescutar.html

Não quero escutar que me ama", minha contribuição para mais algumas horas de escape.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Eu Cecília. Eu escritora.






 E a vida corre assim!!

As caixas do livro chegaram antes de eu "Sarinha" organizar a lodjinha. Lógico que já tinha comprado envelopes em centenas, canetas, post its, cadeira de escritório e tudo mais que preciso para trabalhar. Pode parecer bobagem mas não é! Passei minha vida inteira procurando meu lugar nesse mundão de meu Deus e nunca percebi que era aqui onde sempre estive. Na minha casa, com meus pensamentos, organizando gavetas mentais, espirituais e as materiais. 

A sapateira faz muito tempo deu espaço para o almoxarifado. Grampeador, durex, pincéis, canetas, canetinhas, tintas, furador, ai como amo meu furador! Na verdade os sapatos de salto e as bolsas não dormiram lá nem 1 mês! Salto alto, calça social, roupa social...! Tanta tralha fui carregando na minha vida para estar pronta na hora que chegar minha oportunidade, a minha vez. Cheguei a ter dois ou três cabides com "looks"  para um teste, uma entrevista ou qualquer coisa que se pareça com uma oportunidade! Nuncaaaaaaaa usei nenhum. Depois de um ano de pandemia, ninguém mais consegue ser pela metade, ser de mentira, ou disfarçar qualquer defeito ou qualidade. Estamos tendo a oportunidade de sermos exatamente quem somos! Sem fugas, nem disfarces.

Não quero mais sapatos altos, roupas sociais, quero ser eu, leve, de tênis e calça folgada bem confortável, essa sou eu, em casa, sem muita "vaidade comercial", cabeça fervilhando de ideias e tempo e maturidade para colocá-las todas em prática!

Vambora minha gente, que temos um mundo para melhorar!

OBS: sempre com medo de me expor mas muito feliz de conseguir!   

Primeira crítica!!

A escuta do feminino - Por Krishnamurti Góes dos Anjos
A caixa de Pandora é um mito grego muito antigo, no qual a existência da mulher e dos vários males do mundo são explicados. Tudo começa quando Zeus, o deus de todos os deuses, resolveu arquitetar um plano para se voltar contra a ousadia de Prometeu – que entregara aos homens a capacidade de controlar o fogo. Para tanto, Zeus decide criar uma mulher repleta de dotes oferecidos pelos deuses e a oferece a Epimeteu, irmão de Prometeu. Ao aceitar Pandora, Epimeteu também ganhou uma caixa onde estavam contidos vários males físicos e espirituais que poderiam acometer o mundo. Desconhecedor do conteúdo, ele foi alertado de que aquela caixa não poderia ser aberta em nenhuma hipótese. Com isso, o artefato era mantido em segurança. Após uma relação sexual entre os dois, ele caiu em um sono profundo. Nesse instante, não suportando a própria curiosidade, Pandora abriu a caixa proibida para espiar o seu conteúdo. Naquele momento, ela acabou libertando várias doenças e sentimentos que atormentariam a existência do Homem no mundo. Zeus concluía assim o seu plano de vingança contra Prometeu. Daí o imaginário humano ter atribuído à expressão "abrir a caixa de Pandora" o significado de "a origem de todos os males".
Muito bem, agora imagine você leitor, que vens caminhando ao longo de uma calçada e vê dentro de uma lixeira, um pacote vistoso, muito arrumadinho e bem lacrado com fita crepe. É mesmo um pacote singular. Aquilo espicaça sua curiosidade. Ainda mais se soubesse que naquele pacote há uma pasta plástica preta cheinha de papeis. Está dentro de uma sacola de palha, que por sua vez foi colocada cuidadosamente em duas outras sacolas de loja, tudo isso lacrado com fita crepe larga, gasta sem dó! Que haverá ali dentro prestes a desaparecer em um lixão? Registros de uma vida? Um folhetim, um novelón mexicano? Ou quem sabe até um guia de sobrevivência? Deve conter nitroglicerina pura!!! Você pode até, por recatos de higiene em tempos de pandemia, ou discrição, não abrir o pacote. Mas como Pandora... fica com uma vontade...
Uma mulher, 30 anos, atriz sem fama e sequer contrato, resolve escrever sobre suas vivências e personagens que habitam a região do Baixo Augusta - centro de São Paulo -, de inícios do século XXI. Pretende começar vida nova e reúne cartas, confissões, telegrama e fotos antigos. Tudo na lata do lixo e nas condições descritas. Esse parece ser o móbile – ficcional ressalte-se –, que impulsiona a atriz e escritora Cecília de Aguirre Carvalho – que assina Cica Aguirre –, em seu livro de estreia na literatura. “Não quero escutar que me ama”. No texto de abertura da obra, uma prosa poética à guisa de abertura e que traz o título de “Eu me arrependi tanto quanto aquele beijo que dei...!” E começamos a divisar o estilo da autora dentro do que observamos na literatura brasileira contemporânea, isto em linhas gerais. No aspecto específico dessa obra em si, somos impulsionados a abordar dois aspectos mais particulares que nos parecem importante ressaltar na obra, mais do que meros pressupostos teóricos e enquadramentos críticos de forma.
Quem acompanha a literatura produzida no Brasil nos últimos anos sente que – sobretudo em se falando de literatura produzida por mulheres (eu não escrevi literatura feminista). Há uma nítida e legítima rejeição ao papel infringido historicamente às mulheres. Sente também o caráter de denúncia que certos textos comportam. E sente mais ainda, ao lado de motivos sociais, a ressignificação de elementos comumente associados a submissão da mulher em signos de sua libertação. E o uso de uma mescla de técnicas que não se enquadram em cânones clássicos (daí cada vez mais prosa poética e/ou poesia em prosa). Observamos adicionalmente – e não poderia ser diferente dentro do caldeirão infernal em que transformamos o mundo – que por ser uma construção social, por mais óbvio que pareça, reflete a sociedade, o tempo e a circunstância de sua produção. Percebe-se nitidamente o caráter reflexivo da relação literatura e sociedade nas molduras que têm sido construídas.
De há muito a mulher deixou de ser representada pelo discurso masculino. Passa a representar, ela mesma, seus próprios personagens e ideologias. E temos afinal a presença ativa – não mais cheia de subterfúgios –, do eu que escreve e narra, portador de um ponto de vista próprio, que revela um olhar na perspectiva da mulher. Vozes com posição consciente acerca de seu papel social e do seu direito de expressão. Parece estar mesmo em curso um processo de reconstrução da categoria “mulher” enquanto questão de sentido e lugar privilegiado para a atuação do feminino e para a recuperação de experiências emudecidas pela tradição cultural milenarmente dominante.
Dessa conjunção de sociedade e sentir feminino, parece-nos, se alimenta o vigor literário da senhora Cecília Aguirre. Como já dissemos, uma literatura que em certa medida tateia em encontrar um estilo próprio na oscilação formal entre prosa e poesia, mas que tem o que dizer, percebe-se em larga medida. E não é pouco. Em meio às explosões poéticas de uma sensibilidade muito antenada com sua época e seu meio, é quando a autora se inclina mais para o campo da prosa que, positivamente, sentimos seu poder de criação, sua inventiva ao imaginar situações em que o humano se encontra a mercê de um vazio existencial, de que é exemplo pungente o texto “Catarina”; ou quando o foco narrativo recai na falta de solidez nas relações humanas, como ocorre em “Cela forte” e “Estela” ; quando desnuda a busca incansável de uma identidade não aceita pela sociedade como é o caso de “Scarlet”, história de dor e sofrimento de alguém que durante o dia é um menino tímido, funcionário de um supermercado da rua frei caneca e a noite torna-se a Scarlet solitária das ruas. E finalmente quando nos encontramos em solidão irremediável, como lemos em “Alzira”, e na tragicômica vida de Dona Ondina.
Em outros textos a autora utiliza diferentes focos narrativos e assim consegue estabelecer um dialogismo entre a voz narrativa, as personagens e o leitor, porque não lança mão de uma prosa de vertente realista e brutal. Atinge efeitos tão ou mais eficientes na denúncia do violência circundante, como ocorre em “A pintora” e “Roteiro para cinema”. Resta-nos aguardar que a personagem que encarna um dos últimos textos, “Para saber quem eu sou” venha mais vezes nos visitar. Há uma honestidade imensa ali da qual necessitamos sempre.
Voltemos finalmente ao mito de Pandora. Reza a lenda ainda que ela, logo que percebeu o erro que cometera, se apressou em fechar a caixa. Com isso, conseguiu preservar o único dom positivo que fora depositado naquele recipiente: a esperança. Dessa forma, o mito da Caixa de Pandora explica também como o humano é capaz de manter-se perseverante mesmo quando as situações se mostram bastante adversas. Assim faz a autora de “Não quero escutar que me ama”. Transfundiu experiência em ficções e poesias que gotejam vida. Assim se pode, em proveito não somente de si, ouvir a nossa e tantas outras vozes “criando força, repetindo, construindo, reconstruindo linha por linha, histórias que precisam mesmo ser contadas.
Livro: “Não quero escutar que me ama” – Poesia de Cica Aguirre 1ª edição – 2020 – Ficções Editora – São Paulo – SP – 80 p.


Lancei meu bebê!!

“Não quero escutar que me ama” é o título do primeiro poema que escrevi na vida e por isso é o nome do livro. O projeto era levantar uma peça, ai veio a pandemia e uma ressignificação de tudo, e renasceu uma ideia antiga, agora muito mais corajosa, e com o apoio do meu maridon, resolvi publicar meus textos!
Não conhecia nada do mercado e isolada em casa, numa tela de computador encontrei todos os caminhos para tocar meu projeto e força para encarar cada monstro, meu medo do medo do medo de ter medo! Meses com o editor, revisor, pesquisando críticos dispostos a ler meu livro. Meses trocando emails, WhatsApp, apresentações e correções. O meu editor eu nunca escutei a voz! Tempos de pandemia mas conseguimos @alonso__alvarez ! Obrigada por tudo! @don_camelio sua foto merecia uma capa, não?
Obrigada mamay, papai e mãezinha Deusa Lunar!
São Paulo, 20 de março de 2021. Nasceu. Quase 15 anos depois.