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Pensamentos e Reflexões

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O Feitiço de Átila

Era um verão daqueles.., antes de sairmos rumo ao Parque Nacional Yosemite, dei minha última olhada. Ele estava descansando, com o olhar perdido, nem notou minha presença. Deixamos tudo que ele precisaria e no seu alcance.

Partimos, o ano era 2013, um ano agitado, estava em agosto e tudo já tinha acontecido ou quase tudo, filmei um seriado, enterrei meu Baba e deixei-o no meu armário, num lugar privilegiado, na prateleira lá em cima junto com as malhas. Vista!

Distanciei de tudo e parti para o sonho de conhecer Los Angeles, Califórnia! Livre! Sem planos, sem ansiedade. Logo que cheguei fui apresentada a Átila, ainda descabelada da viagem com bolsas na mão. Lembro bem do jeito desaprovador do meu anfitrião, mas pensei que era ciúmes! Minha amiga se desdobrando em manter tudo perfeito para Átila.

Os dias correram e aos  poucos fui entendendo a rotina da casa, o clima diferente o calor do deserto durante o dia e o vento gelado a noite. Retomando a viagem, estávamos há cinco horas na estrada, ela daquele tamanhico dirigindo um furgão, sempre foi assim metida! Chegamos no Parque no limite do tempo. Já tínhamos reservado nosso chalé, dentro das possiblidades havia umas 5 opções do mais roots à suíte. Mas queríamos aventura e pegamos o do meio do caminho. O chalé com “varanda”, quarto com dois beliches. O banheiro era fora e comunitário do camping do Parque. Eu adoro essa vibe, que a gente vai junto risandinho para o banheiro cheio de chuveiros, de havaianas, frasqueira, toalha e a roupa de troca. Me remete diretamente a minha infância.

No chalé do lado de fora um armário de ferro enorme e verde escuro fechado com cadeado. O parque tem muitos ursos e o monitor nos explicou que até os cosméticos tinham que ficar nesse armário do lado de fora, um tal de creme com cheiro de vanilla, chocolate ou morango com champagne que eles amam..., tudo guardado no armário pesado de ferro fechado com cadeado. Caraio, me senti dentro do desenho do Zé Colméia!

A estrutura da cabana era de toras de madeira e as paredes uma lona grossa, a porta de lona fechada por 3 amarrações, não me parecia que nos separaria de um urso faminto, apesar da Mari estar munida de todo armamento frio para nos proteger. Dormímos umas quatro noites com um olho aberto e outro fechado. Nunca nenhum urso passou nem por perto. Nada como o cheiro sanguinolento do bafo da onça a noite em cima da cachoeira da Fumaça na Chapada Diamantina, ou os lobos guarás de Ibitipoca que furtavam de cigarritos a barra de cereal, real, um pouco mais roots!

Passamos uns quatro dias nesse paraiso, mil trilhas, cachoeiras, piscinas naturais e seguimos para São Francisco, preciso voltar mil vezes para esse lugar, incrívellllll!!!! Compras, passeios, clicks, hotel, museus, almoços, king crab, lagosta, mala, estrada, casa!

Assim que chegamos escutei:
_Estou sem coragem de ver Átila, estou com uns pressentimentos..., Cicão vai lá dar uma olhada?
Fui na ponta do pé ver Átila, ele estava lá ótimo, já me lançou aquele olhar. Gritei:
_Pode vir, ele está vivo! Está aqui tranquilo, tomando Sol. Ela chegou, deu uma olhada, achou que ele estava meio tortinho, talvez seja a posição que ele sentou, mas está vivo e isso que realmente interessa.

Desfazer malas, máquina de lavar, máquina de secar, almoço, louça, descanso.., ai que Sol forte, vou dar uma olhada no Átila. O Sol estava torrando as perninhas finas de Átila, sem muito pensar passei a mão no spray para refrescá-lo, na terceira borrifada notei uma espuma na tela, estranhei o efeito e ele meio retesado. Estranhei mais, ele sempre se estica para melhor refrescá-lo. Borrifei mais, e ele recuou mais. Borrifei mais uma vez com suavidade. Olhei o spray e na minha mão estava o super veja mix -orgânico- de tudo para tirar craca de qualquer coisa. Caraaaaaaaaaio, eu joguei 3 a 5 sprayzadas de “soda cáustica” em Átila! e ele me olhando no fundo dos meus olhos se contraía em movimentos desconexos! Descontínuos.

No mesmo instante que notei meu engano já abri a torneira da pia, dessas de pia americana, que a torneira você desencaixa e sai um chuveirinho duns cinco metros, que dá até para lavar quintal. Em toda potência da torneira eu direcionei a água para Átila, que a princípio aumentou a espuma, mas segui confiante, firme como um pudim, sabendo que o segundo momento era lavar a espuma, o terceiro levar/zerar a espuma e depois o Sol para secar e a minha amiga nem ia perceber a merda que eu fiz!

Mas nãoooo, Átila foi se retesando, retesando, diminuindo, como uma aranha, olhando nos meus olhos, os membros dele se fecharam, foi ai que percebi que era melhor eu avisar minha amiga do que estava acontecendo.
_Mariiiiiiii eu matei o Átila!! Eu matei o Átila. Eu matei o Átila! Ai meu Deus eu ma-tei o Átila! Ela, descrédula:

_Calma Ci, é assim mesmo, parece que ele deixou de desenvolver um dos lados..., por isso está assim, capenga para um lado..! Como você ia matar Átila?
Fui tentando amenizar meu ato para minha consciência, acreditando num sopro de vida, um movimento milimétrico, um sopro de esperança.., mas nãooo ele estava torto e imóvel, sim eu havia matado Átila com requintes de crueldade, foram umas cinco apertadas no gatilho com extremo prazer!

Quando ela se deu conta, seguimos com o funeral e o enterro, sem muitas palavras, só a sensação que a amigue veio do Brasil fazer uma visita para matar a saudade e jogou spray de soda cáustica na cara dele...!

Isso foi em 2013 mas nunca esqueço de Átila e a praga que ele me jogou. Quem disse que naquele momento olhando no fundo dos meus olhos enquanto dava seu último suspiro, ele não estava pensando; eu vou me vingar, pode esperar...., já consigo escutar o fundo musical Pet Sematary do Ramones.

Daí mistura com minhas crenças malucas e tenho certeza que aquela formiguinha -graúda- e bunduda que um dia entrou no meu closet, eu ia dar aquela chinelada e me segurei...., vai que é a reencarnação do Cacau, ou da Mel ou do Billy..., não posso acabar com a oportunidade deles voltarem...., e deixei a formiguinha à vontade passeando pelo meu closet.

Dias depois estou em casa com uma calça pantalona de jeans pesado, cintura alta, 5 metros de tecido quando sinto uma picada ardida. Arranco a calça pelo pescoço!

Pô, não chinelei a formiga achando que poderia ser o CacauZuzu vindo me abençoar, mas nãoooo era Átila e sua vingança maligna! Ainda bem que estava em casa, se não ficaria de calcinha em qualquer outro lugar, no metrô, na rua, no super......! Afff, desculpe a mamay Zuzu, mas se aparecer outra formiga, aranha eu vou chinelar sem dó! Se quiser me rever melhor escolher joaninha -vermelha-, borboleta, tatu-bola, tartaruguinhas no mar, passarinho qualquer um..!

Antes de colocar as lembranças no papel resolvi ler um pouco sobre o Átila, lembro bem de Jorge 
desaprovar totalmente a presença de Átila em sua casa.

1) Eles podem comer beija-flores – tanto sofrimento da minha parte e descubro que ele come até beija-flor!!!
Além de se alimentarem de outros insetos, anfíbios e até répteis, os louva-a-deus têm o costume de comer pássaros de pequeno porte — o que inclui os belos e indefesos beija-flores. Até o ano passado, existiam poucos indícios dessa dieta incomum; porém, uma pesquisa publicada no The Wilson Journal of Ornithology mostrou que tal comportamento é comum dentre várias espécies de louva-a-deus ao redor do mundo. Foram documentados pelo menos 150 casos.

2) Eles podem aprender a pescar e até fazer um sushizinho!
Mostrando que variedade pouca é bobagem, os louva-a-deus também são capazes de comer pequenos peixes. Em outro estudo publicado no Journal of Orthoptera Research, cientistas tentaram descobrir se era possível ensinar tal inseto a pescar, colocando um exemplar macho adulto em um lago repleto de plantas aquáticas e cheio de barrigudinhos — aqueles peixinhos ornamentais que muita gente tem no aquário.
  O resultado foi incrível: o louva-a-deus aprendeu rapidamente a se mover pelas plantas e usar suas “garras” para apanhar os peixes quando eles se aproximavam e os ingerir. Os pesquisadores pontuam que, como os barrigudinhos não se movimentam como qualquer outra presa a que o louva-a-deus esteja acostumado, essa descoberta prova que eles são capazes de aprender novas técnicas complexas.

3) Eles são parentes das baratas -ahhhhhhhhh PQP isso eu não contava!!! Achava que pelo nome era algo Bíblico, sagrado!
Bom, isso pode não soar como uma novidade para você — afinal, basta observar os dois bichinhos para perceber alguma semelhança entre eles. Porém, as coisas não são tão simples assim na comunidade científica, e esse parentesco só foi oficializado recentemente, quando uma análise molecular provou tal relacionamento e colocou os dois insetos na superordem Dictyoptera — junto com os isópteros.

4) Seus corpos evoluíram para caçar -Átilaaaa seu filhote de cruz credo!!!
Não adianta: louva-a-deus são assassinos por natureza e ponto-final. Foi cientificamente comprovado que seus corpos evoluíram ao longo dos anos para que eles se tornassem os melhores caçadores da área. Isso explica, por exemplo, por que eles são capazes de girar a cabeça em 180 graus, observando se existe alguma presa ou predador em suas costas. Seu tórax alongado e as pernas flexíveis também auxiliam na caçada.
E, é óbvio, não poderíamos deixar de citar as suas patas posteriores, repletas de minúsculas espinhas que os ajudam a capturar seu alimento e manuseá-lo durante a refeição.

5) Eles só têm um ouvido -interessante, no meio das pernas...!
E, acredite ou não, o tímpano está localizado bem no meio de suas pernas. Bi-za-rro.

6) Eles são violentos até no sexo -Matei, matei e MATO DE NOVO!!!!!!!!!!!!!!!
Quase todo mundo sabe que, durante o ato sexual, é comum que a fêmea acabe decepando a cabeça do macho; porém, até o momento, ninguém consegue dizer com exatidão o motivo desse fenômeno. Alguns cientistas acreditam que, na verdade, o que ocorre é um sacrifício voluntário para que a futura mamãe tenha nutrientes suficientes para a sua gestação — garantindo, assim, a saúde dos ovos e a continuidade de seus genes.