Crônicas, Contos, Pensamentos, Poesias e Teatro

Contos, Crônicas, Poesias e Teatro
Pensamentos e Reflexões

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Ao feminino!!

Aqui o café é sem adoçante, sem açúcar
Assim mesmo, do jeito que as coisas são
Hoje não tem peeling, estou cheia de ideias
Re-construindo velho sonho
Juntando os cacos do meu retrato
Refinando o faro e abrindo o canal
Deixando vir o que fluir
A lágrima é muita salgada, caralho!
Queima mais a minha pele
Hoje acordei inspirada, ando tão apaixonada!
Insônia de madrugada estou tranquila
639-net e no segundo caso
já estou dormindo,
sonhando com Charles Manson...
Tate, preciso de mais tempo!
Mais tempo!
Fortaleço e me preparo, para essa nova era
de luta, de resistência; Liberdade e Igualdade!
Força para todas as mulheres!
Às enclausuradas pelo medo,
que se faça a Libertação!
O empodeiramento espiritual e material
Força e coragem para a minoria
Repreendida e esmagada
Esquecida!
Força para todas as mulheres
(que precisam apreender" a dizer não!)
Ahhh a polícia do Rio perdeu as fotos, a única prova?
E se a vítima fosse da sua família?
Justiça para a guerreira,
Nossa bandeira!
Não vamos deixar cair no esquecimento,
Marielle, SEMPRE PRESENTE!

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Meninas e Meninos

Na minha casa minha mãe sempre foi o Sol, independente, linda e bem sucedida na carreira de procuradora do Estado que ingressou por concurso público, em 1978 já com seus três filhos.
Assim como minhas duas avós, a materna foi professora e a paterna se formou na primeira turma feminina de contabilidade. Minha bisavó materna foi oficial do cartório de registro civil de Pindorama, o cartório era do seu marido, mas isso não diminui o prestígio de seu trabalho, ela se aposentou aos 70 anos de idade na Secretaria de Estado da Justiça do Estado de São Paulo.
Mulheres absolutamente donas de suas vidas.
Bom, esse conceito de feminismo ou machismo nunca foi discutido em casa. Na minha concepção mais uterina sou fruto dessas mulheres e tenho no meu DNA esse traço forte de liberdade, independência que só fui perceber quando dividi minha vida com um homem.
Olhando pelo universo masculino devo ser a pior espécie de mulher, porque eu nunca percebi essa diferença entre homens e mulheres, além da anatomia.
Em casa o Baba e a Mutch tinham o mesmo peso. Os dois trabalhavam, os dois foram provedores e no final das contas minha mãe que dava a última palavra. Isso em nada incomodava meu pai, muito pelo contrário era claro como ele se orgulhava da mulher que tinha! E com esses exemplos formei meu caráter.
Dentro desse ambiente sem tanto contraste entre o feminino e o masculino, eu cresci. Cheguei na idade de namorar e cada tolhida que eu recebia de algum namorado, sempre estava meu pai por perto para me lembrar que ninguém manda em mim, que eu jamais vou fazer o que eu não estiver afim, me ensinou a dizer não, chega ou não quero mais e se precisar um bom empurrão! Ele me ensinou que posso escolher.
Lembro da época das festas de bailinho, meio para o fim da década de 80, as meninas ficavam sentadas de um lado e os meninos do outro, as mais populares dançavam a festa inteira. Eu sempre fui das primeiras a “ser tirada para dançar’’ e apoiada em algum ombro rodando lentamente pelo salão eu sem querer observava as meninas que passavam a festa sentadas esperando alguém para dançar e no final iam embora chorando. Eu não entendia porque elas simplesmente não levantavam e tiravam o menino que estavam interessadas? Porquê esperar?
Tive a sorte de nascer de uma família Matriarcal, sorte e azar, Matriarcal porque meu avô juiz teve um infarte fulminante em 1976, quando eu tinha um ano de idade e minha vó com pulso firme seguiu comandando a família. 
Mas quero mesmo é falar do meu PAI, que homem maravilhoso que ele foi. Era o primeiro e mais fervoroso incentivador da minha mãe. Ele era diferente de todos os pais. Lembro que ia me buscar nos bailinhos e aceitava dar carona e encher seu Ford Landau com destinos absolutamente opostos, centro, Lapa, Vila Mariana...., ele não estava nem ai, ia fazendo a maior bagunça. E lembro muito de ele perguntar -sempre- se “fiquei” com o menino que eu gostava. Esse era meu pai, sempre quis que eu fosse quem eu sou e não o que a sociedade espera.
E assim foi me orientando.., se me toliam, me seguravam, eu escapava, ele me ensinou a saber exatamente o que não quero e diferente da grande maioria de pais, o conselho era sempre; pula fora filha! Ele me ensinou também a fazer tabelinha, um círculo em vermelho nos dias, no seu diário, assim mesmo sem esticar muito o assunto. Hoje percebo que ele era um pouco ciumento. Casei depois que ele desencarnou! ehehheheheheh
Meus pais, minha criação e exemplos que tive são responsáveis pela FEMINISE que sou! Sem esquecer a GALINHA que fui, porque mulher que troca muito de namorado era galinha! Mas na minha casa tinha outro nome; AMOR PRÓPRIO!
Atrás de uma galinha ou feminista acredite tem um grande pai -inovador-, moderno, a frente, genial que acreditou que sua menina poderia ter todas as possibilidades como qualquer menino.
Pensem nisso!



segunda-feira, 17 de junho de 2019

Eu sobrevivi e estou aqui!

Tudo que está aqui é real, não vou citar nomes.

Dezembro do ano passado fez 10 anos que minha vida mudou.
Nunca tive muitas amigas, mas as poucas que tenho estão comigo até hoje, me orgulho disso e levo a sério.
Dezembro de 2008 estava dirigindo nos Jardins quando recebi uma ligação, atendi era a irmã da minha melhor amiga.
-Cicão?
-Oieeeê
-O que você está fazendo?
-Dirigindo
-Você pode encostar o carro??
-Pronto fala!
Silêncio......; - a XXXXXX morreu!
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Dezembro a vida vira uma festa, estava perto do aniversário de 60 anos da minha mãe, perto do Natal. Um ano terrível que muitas coisas aconteceram, perdi minha prima irmã, minha afilhada e minha gatinha, tudo num intervalo de poucos meses!
Dez anos para tomar coragem e falar sobre o que aconteceu.
Voltando, era dezembro minha melhor amiga tinha vindo de longe, do outro lado do mundo com seu marido e um casal de filhos, para finalmente morar no Brasil, Sampa, perto de casa, isso estava me causando muita euforia, desde que saiu da faculdade ela foi viajar pelo mundo e nunca mais voltou, só de passagem, mas dessa vez estavam aqui para ficar!
Mudaram para um belo apartamento muito perto de casa, deixaram tudo lá e foram para a Bahia, eu lembro que não gostei nada dessa ideia, porque mal tinham chegado, consegui ver a pequena deitada em sua nova cama, ela já não mais tão pequena, 3 anos e 11 meses! Foram para Bahia para passar dez dias e voltar para o aniversário de 4 anos dela, eu já estava com meu convite em mãos, primeiro aniversário no Brasil com direito a Buffet e tudo mais. Esse convite ainda tenho, nunca pude usar.
Difícil falar sobre isso, nem cheguei no ponto da questão e já estou soluçando, segurando a toalha de rosto.
A minha afilhada foi violentada e morta uma semana antes de completar quatro anos pelo jardineiro da pousada que eles estavam hospedados, pousada de uma “amiga” nossa.
Não dá para explicar o que foi essa violência e o quanto mais foram agredidos. Eu preciso falar, não dá mais.
Desliguei meu celular sem entender nada. Não sabia o que fazer, não conseguia entender o que tinha acontecido.
.....
Pediram para eu ir até o apartamento deles para “esconder” tudo que tinha dela pela casa, abri a porta e dei de cara com um pé do tênis rosa.
Estou revivendo essa história porque cada dia mais aumenta a discussão sobre ESTUPRO e tudo que vem junto. Porque a vítima sempre é a primeira culpada? Seja pela roupa, por onde está, por quem anda, por quem é, por seus modos e nunca pelo infeliz que não soube se controlar!? Eu acho BIZARROOOO ter que escrever tudo isso, mas simmmmm eu preciso! QUANDO MINHA AFILHADA MORREU VIOLENTADA, ASFIXIADA E JOGADA NUM MANGUE A SOCIEDADE BRASILEIRA CONDENOU A MÃE, a culpa foi da mãe que não estava olhando, que não cuidou direito, que estava usando drogas.., tudo que você pode imaginar para destruir a imagem de uma mulher, nesse caso da minha melhor amiga, mãe zelosa que me orgulho tanto.  
Eu quero contar essa história, eu preciso!
Eles voltaram para São Paulo, com a pequena no caixão, o pai desconfiou que tinha algo muito estranho, mas a polícia baiana deu um laudo de afogamento. A rede record foi até a delegacia apurar o que aconteceu e o imbecíl do delegado ficou bem a vontade porque a câmera estava abaixada, mas não desligada; -isso acontece todo dia aqui! A culpa é da mãe que não estava olhando! E acredite isso foi reverberando até nas rodas paulistanas. Eu JURO que ouvi até da minha colega do teatro e seu marido que essa história é muita estranha e mal contada! Sempre acompanhava um relato de alguém conhecido falando alguma coisa pejorativa... Era só o que as pessoas conseguiam falar. Como eles estão, os avós, como você está? Nunca! Somente o julgamento....., tudo muito estranho e sempre com um distanciamento, mostrando o desconforto. Desculpe o desconforto foi nosso que vivemos isso! Não de vocês que não queriam nem saber o que aconteceu.
Estranha mãe, estranho pai, tia, madrinha, todo mundo estranho e a gente feliz! Sim não fomos acolhidos. Ali não foi embora só uma vida, mas muitos sonhos e esperanças, morreu a mãe que eu poderia ser.
O velório foi de mentira, porque suspeitávamos do crime então não podia enterrar.
A irmã de uma outra grande amiga nossa conseguiu mexer mundos e fundos e passamos a investigação para São Paulo, porque queríamos outro laudo, afogamento não era verossímel, ela sabia nadar. Ela conseguiu e no dia 15 de janeiro saiu o laudo da autópsia aqui de SP, nunca vou esquecer porque era meu aniversário. Ela não tinha morrido afogada, a gente sabia.
Uma tarde toca o telefone é uma delegada da Bahia, lembro exatamente do nome, mas estou em respeito a minha amiga, sem mencionar nomes, essa mulher maravilhosa, quis ajudar a minha amiga, se interou de tudo e começou a investigação. Os pais sempre souberam quem era o assassino, lembro da minha amiga ligando para a dona da pousada para dizer pelo amor de Deus, cuidado com as crianças, era férias!! Eu liguei para uma amiga que foi para lá, duas semanas após o assassinato para pedir para ela não ir com sua filhota e chegaram aos nossos ouvidos até que como peritos “brincaram’ de simular a cena do crime-!?!
A gente sabia e se preocupava com todas as crianças que estavam lá na pousada sob o olhar do assassino!
Carnaval chegou e os pais foram convocados para ir até a Bahia para depor, a delegada já tinha esquematizado todo o plano. Foram até a pousada, os hóspedes que estavam lá já tinham seguido viagem, ainda mais depois da tragédia, o que tirava pela metade a possiblidade de fazer justiça. A delegada convocou TODOS os funcionários a acompanharem na delegacia, a tal que era nossa amiga e proprietária da pousada NÃO queria liberar os funcionários e falou em alto e bom som, quem vai pagar a condução de volta deles? A menina foi afogada culpa da mãe que não estava de olho.
Entraram no carro minha amiga, o marido no banco do passageiro, a delegada separando o assassino da mãe sem a filha. Lembro da minha amiga falando, ele foi o caminho inteiro batucando com a mão a música que estava tocando no rádio e ela pensava..., não pode ser ele! Ele tem uma filha da idade dela!
Na delegacia o jardineiro depois de meia hora de contradição caiu de joelhos e confessou tudo com riqueza de detalhes. Direto para a cela, sem dinheiro para condução de volta para nunca mais!
Anos se passaram até o julgamento, a família já bem longe do Brasil voltou para o tribunal, eu não fui. Ele foi condenado, direto para o presídio e na primeira rebelião fazia parte da lista dos que foram queimados com o colchão. Alívio?? Não! Não teve alívio para ninguém.
Mas justiça foi feita nossa pequena não foi em vão, o demônio confessou diversos casos, minha amiga foi uma heroína que tirou esse sujeito da rua, o resto são as escolhas dele.
Já minha amiga, sua família, eu, não tivemos escolha, apoio, carinho. Fomos isolados porque o clima estava PESADO, e estava mesmo, o meu namorado da época não me acompanhou no velório..., muito pesado.
Percebi como as pessoas podem ser egoístas e algumas cruéis.
A vida seguiu, minha amiga engravidou de novo e quase todos os dias passava a tarde em casa, primeiro ela e a barriga e depois ela e a bebê. A gente se apoiou muito, chorava, ria, se revoltava e continuava! Quase que isoladas.
Um dia TIVE que voltar para aquele lugar, esse lugar foi um dia o meu Paraíso; Trancoso conheci levada pelo meu tio, médico que se formou na USP e na viagem de formatura conheceu uma bela baiana e por ali ficou, não ficou muito porque também foi assassinado lá. No Paraíso sem Lei. Pausa,







mas lá estava eu, Páscoa, caraaca, Páscoa, perdão, igreja..., fui lá encomendar uma missa, me direcionaram para uma senhora que morava do lado da casa em que eu estava hospedada. Por acaso era a ex babá do meu anfitrião.
Fomos muito bem recebidos com cafezinho adoçado com açúcar cristal e bolo de aipim. Falei para ela que gostaria que rezassem pelos meus na missa no domingo de Páscoa e ela levantou para pegar um caderninho para eu escrever o nome. Eram os nomes, meu tio, minha prima e minha afilhada, TODOS os três desencarnaram lá. Todos meus. Quando ela leu os nomes perdeu a cor. Você conheceu o Dr Pérsio? Eu respondi feliz e efusiva, simmm meu querido tio. -Essa menina aqui brincava aqui em casa com meus netos e esse moço que prenderam é inocente e meu sobrinho. Ele confessou mas para ela era inocente, eles são daquela religião que a culpa é do Satanás que encostou e não do próprio assassino. Por essa e outras não simpatizo com evangélicos!
Domingo de Pascoa chegou, acordei às seis da manhã, tomei banho e vesti um vestido branco e alvo, guardado para isso. Fui sozinha assistir a missa toda, como era uma data especial estava padre, bispo e arcebispo, como uma carola vivi a Missa toda esperando escutar a homenagem aos meus mortos, a missa acabou, ninguém falou nada, vários, vários nomes, e não os meus, porquê?? Fiquei sentada sem reação até esvaziar a igrejinha. Após a missa tinha um café da manhã comunitário e caminhei para lá, na verdade era o meu caminho, mas dei de cara com os 3 sacerdotes, e fui como paulistana desenrolada que sou perguntar para eles porque ignoraram meus pedidos de prece, para três pessoas que deixaram suas vidas naquele local.
Se entreolharam, não me responderam e com um olhar desaprovador o mais novo, o Padre encostou a mão no meu peito e me empurrou!! Pedindo para eu me afastar. Essa é a imagem que eu tenho da MARAVILHOSA IGREJINHA QUE TODO MUNDO TIRA UMA BELA FOTO! Fake como a era em que estamos vivendo!
Vivemos num pais que a mulher sempre é subjulgada, e o pior pelas próprias mulheres. Hoje eu tenho no máximo cinco amigas, as que conseguem se posicionar, odeio covardia, odeio machismo, nossa sociedade é ridícula e não acolhe as mulheres vítimas. Infelizmente lembro de tudo de cada comentário desconstrutivo, de cada julgamento. E lembrarei eternamente de quem foi forte e soube segurar o tranco do nosso lado!
A vida tem muitos momentos difíceis e o que aprendi que para você conseguir evoluir tem que viver e olhar de verdade para aquilo, não adianta disfarçar, fugir, evitar. Eu estou aqui e vivi esse tormento, sobrevivi, perdi muitas pessoas e oportunidades mas entendo HOJE que era só uma limpeza para eu enxergar melhor o meu caminho! 


quarta-feira, 5 de junho de 2019

Oiê??

2019 ano ímpar! #amooo
Começou cheio de vontades, a mais forte delas eu retomar minha vida profissional.
Na verdade comecei essa volta faz mais de um ano, quando me vi desanimada, sem objetivos, sentindo que passou minha hora. Bom eu não estava tão velha, 43 anos, velha para muitas coisas mas não para atuar, não tem idade..., ufa! Meu primeiro passo foi voltar a me olhar, entender onde me perdi e começar a montar o quebra cabeça. Encararei de frente os 11 kilos que ganhei e não faziam parte do pacote, assumo que tenho problemas, só consigo me amar dentro do padrão que eu estipulei na minha cabeça lá atrás. Bom sabendo disso comecei a dieta, sou nutricionista e usei tudo que minha vó ensinou...! Não tem segredo emagrecer, precisa querer de verdade.
Outro ponto importante era retomar minhas atividades físicas, que parei em 2015 quando mudei de casa. Endorfina é mais importante que ter o corpo bonito.
Três anos sem atividades e acima do peso ficou difícil me sentir segura para convencer Castings, até filmei duas, três publicidades mas detestei o que vi na tela, me achei redonda e com o cabelo alaranjado. Ai fudeu! Parei tudo mesmo, marquei um ortopedista e dei finalmente o start que faltava para dieta e voltar a me amar. Aproveitei e parei de pintar o cabelo também. Detesto tinta! 
Consulta, ressonância, médico, três hérnias cervicais, um bico de papagaio, seis meses de fisioterapia e adeus a exercícios físicos.
Inconformada, novo especialista em cervicais, eu mais confiante e o médico mais sério me deu alta dizendo que minha coluna é de uma menina de trinta anos. (!?) Mais três meses de fisio para fortalecer os músculos mais profundos e vida normal com direito a bungee jump! Instituto Osmar de Oliveira, faço questão de nomear, gostei muito. Viva a vida! Vida nova!
Com alta depois de nove meses de fisioterapia, retomei a academia em casa, esteira e prancha todo dia, comecei com vinte minutos e agora estou em 5K em 45 minutos quase todos os dias. Emagreci os 11 kilos, num estalar de dedos. Voltei a ser exatamente como sempre fui, na verdade bem melhor, pronta para tudo, inteira. De novo: BASTA QUERER! Querer de verdade, com força e sinceridade.
Pronto a vida organizada, minha casa do jeito que eu sempre sonhei, meu marido lindo em total harmonia com quem eu sou, eu em harmonia comigo, parei de pensar só nos outros e comecei a pensar um pouco mais em mim. Nesse momento estava procurando casa de Show para um espetáculo de Flamenco, participando de editais para o show de Flamenco e no meio de uma ligação, percebi de novo que estava fazendo para os outros. Foi um bom retorno. Desliguei o telefone, e comecei a pensar e se eu me vendesse como vendo até faca sem fio para os outros?
A partir dai, pedi uma reunião com as minhas agentes, trabalho faz 15 anos na mesma agência, adoro elas e precisava de meia hora de atenção. Depois de umas duas semanas conseguimos marcar um horário, uma segunda-feira, 29 de abril, lá estava eu, nerrrrrrvosa porque sou uma negação para falar de mim, posso ter um milhão de adjetivos para você desconhecido, mas não consigo dizer um elogio sobre mim.
Arrumada no meu melhor estilo (tênis) munida com folders de peças, trailer do seriado, prancheta com todos os tópicos da reunião. Apesar dos 15 anos trabalhando juntas é uma agência que deve ter milhares de atores eu sou só mais uma. (Será que eu vou ser sempre só mais uma?)
Sentei na frente das duas, adoro elas, e comecei; estamos juntas faz 15 anos, já sei fazer tudo; chego antes do horário, decoro o texto, não derrubo o cenário, não fico nervosa, não fico corada, já sei quem é quem, sei o que preciso fazer, sei esperar, respirar, me controlar, me sinto pronta, mas tudo isso para Publicidade? Para o ação e corta num intervalo de cinco minutos?
Eu sou e sempre fui louca por dramaturgia, escrevo, amo contar histórias, posso passar horas rindo sozinha, organizando como contar de uma forma mais legal, e mais legal..., e em quinze anos fui indicada para dois ou três testes do que hoje chamamos de conteúdo. É isso, fui lá para dizer que quero, preciso tentar conteúdo, isso tem um real sentido na minha vida, a publicidade me trouxe muita coisa, experiência até do que não fazer, cachês maravilhosos mas agora tive que dizer adeus e começar uma nova fase.
Voltei para casa cheia de esperanças e tarefas, para tentar conteúdo eu preciso de material de conteúdo. Fiz um sitcom em 2013, no ano que me casei e não mexi muito com isso, casar, comprar casa, separar, casar de novo com o mesmo, reformar a casa, tudo isso tomou meu tempo. Mas eu tinha o seriado de 13 episódios cheio de cenas minhas, precisava organizar os vinte minutos de cena em um Reel de 1 minuto, com apresentação, cinema e teatro. Passei vinte dias fazendo, acordando e dormindo abraçada com o computador. Antes disso queimaram dois hds do meu macbook, mas deu tudo certo e aprendi a usar o Final Cut, entreguei para minhas agentes meu Reel, estou colocando o que fiz e a versão que o Mau fez.


Versão do Mau



Merda para nós todos!! Evoé!!

OBS: como atriz uso o nome CICA AGUIRRE, estou no Elenco Digital, Nossa Senhora do Casting e IMDB.

sábado, 27 de abril de 2019

Em algum TERREIRO por ai!!


Era 2009 eu estava há duas semanas da estreia da peça que eu idealizei e produzi.
Tudo começou numa feijoada de despedida do Musical Bixiga, eu estava tão chateada que tudo ia acabar que convenci três do grupo; duas atrizes, a preferida do diretor e a que gostava de escrever como eu e o diretor de cena, passamos o ano nos reunindo na mesa da cozinha dele construindo o texto e depois ensaiando em salão de festas emprestados.
Produzimos tudo; o figurino, cenário, fotos, folder, cartaz, gráfica, gelo, o Teatro que eu paguei com um cheque caução sem fundos!
Eu estava realmente super pilhada e ansiosa, dentro do processo criativo normal de levantar um espetáculo pela primeira vez e fiquei mexida quando minha super-mega-amada amiga Mari me chamou para uma semana sabática num Terreiro na Bahia, Festa de Oxalá.  Estava tudo encaminhado, dava direitinho para dar um pulo em Salvador, eu a Mari e as meninas, #sonho! Louca eu topei, achei que seria incrível essa oportunidade de conhecer intimamente um Terreiro de Candomblé. Na época eu era ateia, batizada na Igreja Católica Apostólica Romana.
Mas desde que tenho a menor consciência que sou um ser em construção, cheia de limitações, que procuro um caminho para a evolução. Já fui em tudo que você possa imaginar, Templo Budista, Alan Kardec, Igreja Evangélica (essa bem sem querer), Santo Daime.., e porquê não passar um finde num terreiro na Bahia?? No mínimo iria voltar energizada para minha estreia!
Nó em pingo d’água e tudo pronto para partir, já faz dez anos que tudo isso aconteceu mas vou me concentrar para não perder nada!
Fomos de avião, nós quatro, sempre é incrível estar com elas, voo rápido, no desembarque a Mari já encontrou paulistas, cariocas chegando para o mesmo destino.
Deixamos as meninas para a primeira noite na casa da minha tia Fátima e entramos no Terreiro as 23hs, a Mari me explicou que lá não poderíamos falar, pelo horário todos já estavam deitados, pediu que eu fizesse tudo exatamente igual a ela, e em silêncio. 
Entramos, só as luzes da Lua, uma casa antiga e branca, branco caiado, com janelas cinzas, corredor enorme no final chegamos no que deveria ser um átrio, aberto e com algumas árvores, esteiras cobrindo o chão com pessoas dormindo, eu e a Mari, eu copiando todos os passos dela, buscando onde pisar, em direção a uma portinha. Entramos, era uma espécie de “lodjinha”, lá pegamos todo o vestuário, uma calça, uma saia, uma pano de cabeça, a camiseta Hering cada um leva a sua. Tudo branco candido, com nossa vestimenta em mãos saímos do quartinho, atravessamos o átrio, depois um grande quintal de piso de terra e grama repleto de árvores, chegamos no vestiário com vários chuveiros, tiramos toda a nossa roupa e passamos pela ducha gelada, perguntei da toalha e escutei um: -shhhhhhhh Cecília!! Entendi que não tinha toalha e nem água quente, entendi também que fazia parte do processo se fuder um pouco!
Desligamos o chuveiro a Mari saiu e voltou com um balde de água marrom, meio café com leite que cheirava sela de cavalo, quando vi já logo perguntei;
-Que porra fedida é essa?
Ela derramou aquela água marrom fedida, metade em mim e metade nela, o fundinho com terra lógico que em mim, brava, lembrando-me que o combinado era eu ficar calaada!
Mandou eu vestir a roupa por cima. Só porque a essas alturas eu já estava bem contrariada, o banho gelado as 23:30 com o agravante de sem toalha, eu vesti a saia por baixo e lógico sujei a saia no piso molhado. Não podia sujar a saia, caraalha, por isso me pediu para vestir por cima, realmente eu tenho muito que evoluir... Como se eu fosse uma criança, a Mari me levou pelo braço com a saia suja até a lojinha e trocamos a saia.
Toda limpa, branca, sem nada de adereço, brinco, colar, nada, cabelo ensopado pingando e puxado para trás, ela pegou duas esteiras em um balaio grande e foi procurar um lugar no átrio para nós. Abrimos as esteiras e deitamos.
Um frio de matar, eu estava com o corpo molhado embaixo daquela roupa de algodão branca, estava há uma semana da minha tão esperada estreia com o cabelo molhado, no relento, sem coberta para dormir! Quem é ator sabe do pânico que senti, fazemos absolutamente TUDO para mantermos nossa saúde mental e física antes de uma estreia, mas eu estava ao relento, molhada a meia noite, 1 semana antes da estreia! Provavelmente em nem terei voz semana que vem, posso ter uma pneumonia.., sei lá! Não estava achando aquilo muito correto.
A Mari que dorme depois de ver toda a programação da televisão, já estava dormindo feito um bebê! Desgraçada só pode ter tomado um Dormonid!! Foi a maior dificuldade me desligar do frio, cabelo molhado, esteira, relento, mas dormi. Meia hora no máximo, antes de clarear ela me cutucou já de pé e enrolando sua esteira. Acordei num pulo, me apressou porque a fila do banho fica enorme....., fila do banho?? Meu cabelo ainda está molhado e tenho que tomar outro banho??
-Simmmm, aquele foi para limpar o que a gente trouxe da rua e esse já faz parte do ritual Águas de Oxalá!
Chegamos na fila, ainda não estava enorme, ela levava a uma portinha azul, nessa fila muita gente famosa, mas não vou falar quem. Chegou minha vez, entrei na porta, que dava para um quartinho com outra fila que levava para a varanda!! Cheguei na varanda um esguicho para tomar banho, pelada, não poderia ser diferente de todos. Não olhei e também ninguém me olhou.
Segundo banho tomado, nova roupa virgem e fomos para a sala principal, sentamos num cantinho, estava começando a clarear, tinha que esperar toda a casa se aprontar, passar por aquele ritual, até o mais velho/a chegar e começar a descida de Oxalá com o balde na cabeça.
Uma entidade que não sei quem é, avalia a lata que você vai carregar, recebi uma de tinta, daquelas quadradas de 18 litros, mas vi outras pessoas com latas de milho! Cada um com a sua, passamos por outra fila para encher a lata de água, outra entidade encheu e comecei a descida da escadaria com ela na cabeça. Olha aquela lata de tinta cheia de água até o talo ia afundar meu miolo mole! E convicta que aquilo não faria bem a minha saúde, a cada passo que dava, a cada degrau eu deixava cair um pouco, quando cheguei lá embaixo estava com menos da metade!
Desce, sobe escadaria, quase meio dia, e começa a chegar muita gente, mulheres também de branco, mas cobertas de ouro, maquiagem, adereços e perfume doce. Tive certeza que deve ser a tal sociedade Soteropolitana!
Sol esquentando, eu exausta só conseguia pensar no café da manhã da minha tia baiana com cuscus e banana frita!
Depois de uma tentativa de dormir na casinha alugada, um entra e sai de gente, impossível dormir, eu não aguentei, abandonei o barco, corri para titia curtir uma praia do Forte tomando Sol com as crianças.
Voltamos todas no Terreiro para o encerramento da semana de Oxalá, descansada e serena, observando tudo meio distante, mas muito feliz, com total consciência da minha "pequinês" e que nada é melhor que curtir a Natureza, entrar no Mar, se jogar nos braços de Yeh Mãe Jah, família, amigas de verdade e as crianças para renovar, recomeçar. 
Observe as crianças, elas sabem tudo!

foto: exaussssta

quarta-feira, 17 de abril de 2019

FOCO

Acho engraçado quando me cobram foco.
Nasci focada, desde criança sempre soube que queria ser atriz. 
Demorei um pouco para assumir minha vontade e encarar o sonho. Com 25 anos joguei o pouco que tinha para cima e fazendo um freela para uma super amiga na Rede Globo com figurino aquele sonho lá atrás veio com tudo, não adianta fugir, a vida toda com uma pontada de certeza que lá é meu lugar, lá ou o que significa a Globo para mim. A melhor empresa para se trabalhar com dramaturgia, a fábrica de sonhos que sempre alimentou meu imaginário mais profundo.
A temporada do seriado acabou e a locação foi para o Rio de Janeiro, numa nova fase, minha chefe e eu fomos convidadas para continuar na equipe, nem ela nem eu tínhamos bala na agulha para isso, Rio de Janeiro é absurdo de caro e não estava nos planos... 
O trabalho encerrou e eu fui me matricular na escola de Teatro mais perto de casa, morava em Santa Cecília e fui para o Macunaima, deslumbrada com o universo da interpretação, deslumbrada! Cursei dois ou três semestres, eu e duas colegas queríamos mais e a escola de teatro Célia Helena desde minha época de modelo já era babado. Migramos recomeçando do zero para o Célia. Melhores anos da minha vida, muito aprendizado em pouco tempo, um tapa na cara quase todo dia. Sinto saudades e quando conseguir quero voltar, fazer uma atualização, em roteiro.
Em 2007 formei atriz, já era Nutricionista, mas isso ainda não interessa, drt ativo, currículo, fotos, tudo em ordem e em mãos fui para o cadastro da Globo, fui muito bem recebida e entrevistada pelo Zeca Bittencourt, conversa gostosa, entrevistador leve. Uma semana depois o mesmo me ligou marcando o vt que eu estava com sorte, estavam procurando atriz com meu perfil. Busca louca de monólogos, nãooo consigo me lembrar qual fiz, sei que é tudo meio uma fórmula parecida, talvez tenha feito algo autoral, detestaria um dia ver ou lembrar!  
Foi a única oportunidade que tive e com certeza não estava preparada, uma vida sonhando para resolver tudo em dois dias, texto-respira-calma-studio-vida toda passando na cabeça-ação!
FOCO
12 anos se passaram, de televisão o que aumentou minha bagagem foi uma média de 1 filme publicitário por ano e um seriado de 13 capítulos com a equipe israelense falando um inglês engraçado, assim como o meu!! Ali consegui criar um personagem dormir e acordar, maturar, entender a criação do personagem. Amei falar em inglês e soltei a clássica EU TE AMO em hebraico; “any oeveth otrah!”
Na publicidade eu aprendi o time de gravação, não tropeçar nos fios, derrubar o cenário, dar o texto na hora certa, esperar, esperar e esperar sua vez, esperar mais um pouco, entender quem é quem nos seus postos e gravar tudo em 5 minutos. Você aprende tudo isso mas não a conviver e evoluir o Personagem e suas nuances. Não dá tempo para nada, além de um exercício que faço para a musculatura do rosto entre um corta e ação! 
FOCO
Nove ou dez peças no meu currículo, sendo que duas grandes experiências com; Bixiga, o Musical na Contra-mão em 2009 e a peça com minha co-autoria e produção Salvo em Rascunhos em 2010 e 2011.
FOCO
Para sobreviver com um filme publicitário por ano, duas peças em uma década me tornei muito versátil, nesse tempo fui recepcionista em agência publicitária, gerente de escritório de advocacia criminal, atendimento em produtora audio visual, gerente comercial de escritório chileno de importação e exportação, SOU petsitter louca alucinada, especialista em gatos, estudante de concurso público,  contadora de histórias, dona de casa das antigas e cozinheira do Mau.
FOCO
Quando me pedem foco fico chateada porque para eu conseguir ter foco no que eu amo, a Arte Dramática eu tive que aprender a fritar o peixe e olhar o gato. Tive que aprender a tocar a vida, pagar as contas mas sempre com o foco de ter espaço para correr para um teste ou um texto, esse é meu maior FOCO.