Crônicas, Contos, Pensamentos, Poesias e Teatro

Contos, Crônicas, Poesias e Teatro
Pensamentos e Reflexões

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Drama-turgo

Sabe aqueles dias que não dá vontade de sair de casa? Quarta-feira passada, justo o dia que me programei para assistir à peça Pedreira das Almas, com o Fábio de Andrade e o Adriano Merlini, grandes amigos e colegas, no elenco. Tinha que ir de qualquer jeito. Gosto de acompanhar o trabalho e a evolução dos colegas. E também daqui a pouco, eu é que estarei em cartaz e quero poder cobrar a presença deles. Ahaahah... O motivo que me levava era torpe, mas verdadeiro. Só o gatilho...
E lá estava eu de novo subindo a Augusta, com o meu ipod, animadinha na chuva, indo para o Metrô. Oito e meia da noite.
Desci na estação Sumaré, quebrei uma direita e outra esquerda. Se fosse na época das carroças, a rua estaria cheia de Merda. Dizem que é daí que vem o famoso Merda, antes de entrar em cena. Merda = Casa Cheia. Muita gente, muitas carroças, muitos cavalos... muita merda!
Enfim, a casa estava cheia. E logo de cara encontrei o dramaturgo que escreveu a minha peça de formatura, muita emoção para uma simples ida ao Teatro. Cumprimentei-o rapidamente e fui para a bilheteria garantir meu ingresso e organizar as idéias. Uma fila básica, mil listas até achar o meu nome, sete minutos para começar a peça.
Feliz com meu ingresso na mão, vi que o meu “foco”, o dramaturgo, estava num papo animado com dois ou três, certeza que atores, pela altura da conversa e o tamanho dos gestos. Primeiro sinal. Fui ao Café, comprei um, mais uma água e um bombom para a peça. E lá estava ele, num instante sozinho... Investi e acreditei no meu movimento até o fim.
-Calixto! Quanto tempo, que bom te ver!
-Ciça! (Meu apelido errado... mas, ele pode) O que você está fazendo de bom?
-Ahh, acabei de fazer um curso de interpretação, plano novela e mini-série.
-Jura? Cáassia?
   Eu já conhecia a Cássia de nome, mulher dele, produtora de Casting dessas, com o perdão da palavra: fodonas..! Ele me apresentou a ela, dizendo, a Ciça é boa, ela é legal, mas tudo que eu queria era falar com o marido dela e convidá-lo para ler o meu Blog! Não era paquera. Eu precisava de um feed-back, uma crítica de alguém do meio. Toca o segundo sinal. Gelei. Respirei fundo e sem querer ser grosseira, desatei:
-Cássia, posso mandar meu material por email para ele, que te encaminha? Ela concordou e me virei rapidamente:
-Então..., finalmente consegui falar em três frases que estava escrevendo e que adoraria receber uma visita dele no blog, terceiro sinal! Simpático ele disse que ia olhar sim.
Missão cumprida. Assisti à peça que já montei no Célia Helena, que conheço decor e saltiado, emocionei-me muito com o texto, com o trabalho dos atores, com as escolhas do diretor, a luz... e corri para casa mandar o email para o Dramaturgo e sua mulher.
A novidade é que estou estudando dramaturgia com o Calixto paralelamente `a redação literária. Um mergulho de cabeça, uma verticalização na aritmética das letras e talvez reflita aqui no Blog, eles querem me enlouquecer.... e eu estou adorando!



VIGA Espaço Cênico
Telefone: (11) 38011843 - Rua: Capote Valente, 1323 - CEP: 05409-003
(entre a rua Heitor Penteado e a Amália de Noronha). Próximo ao metrô Sumaré. 





domingo, 13 de setembro de 2009

Metrô em Sampa


Terça-feira passada, cinco e meia da tarde, a cidade estava um caos, na hora que resolvi sair de casa para me dirigir ao curso de Redação Literária. Vi na internet que naquele momento seria impossível ir de carro -trinta pontos de alagamento! Semana passada não fui `a aula, não me lembro o motivo, mas jamais falto duas semanas consecutivas... jamais!
Então vesti galochas, capa de chuva, mochila, o "ipod" e fui animada escutando Madre Deus para o metrô Consolação. Animada não. Resignada. Já tinha o bilhete, um só; na volta compro o outro, já que o movimento será bem menor. Desci pelas escadas rolantes, e me posicionei estrategicamente na plataforma de embarque, como maré em lua cheia, a onda de pessoas que chegava estava mais para Tsunami.
Respirei fundo e me mantive firme. O trem chegou e parou, abriu a porta, a multidão se encavalou na troca de fluxo. As pessoas não conseguem esperar o desembarque para depois embarcar... fazer o quê? Fiquei `a distância, e assim que a confusão se aquietou entrei no vagão, encostei na parede, perto da porta e tentei me levar pela música.
O trem não estava lotado, apesar da plataforma estar, todos conseguiram se acomodar. O incrível é que em poucos segundos e já estávamos na próxima estação, mais uma plataforma cheia de pessoas que entram no trem, antes disso, lógico que se engalfinham para saber quem entra e quem sai primeiro. E eu lá, encostada na parede, perto da porta, controlando meus impulsos.
Seguimos viagem, terceira estação. Quando vi a quantidade de pessoas para o embarque, meu coração disparou, sabia que todas iam se espremer até conseguirem entrar no trem. Pensei em enfrentar como nas duas últimas estações, mas pensei por três segundos e corri para a porta, tentar sair. Digo tentar, porque não necessariamente você consegue sair. A minha sorte é que um funcionário do metrô, que está lá para auxiliar o embarque e desembarque, viu no meu olhar minha perturbação, me pegou pelo braço e puxou, como quem desentope uma pia, e me salvou! Salve os monitores! Eles ajudam os cadeirantes também!!
Feliz e levemente frustrada, sentei-me numa cadeira ali mesmo. Todos entraram no trem, esmagaram-se e o trem partiu. Do meu lado, uma moça de uns 19 anos. Observei que ela estava ali sentada, olhando como eu o movimento e resolvi puxar assunto, depois de um breve sorriso:
-Tentei, mas não consegui seguir viagem, o trem não parou de lotar, foi me dando falta de ar e taquicardia e resolvi fracionar a viagem.
-E eu estou fazendo hora e esperando o trem esvaziar, passo mal com ele lotado assim...
Eu fiquei tão feliz de saber que não sou um "alien", que outras pessoas também “fritam”...
Bom, não tinha o que fazer, sempre vou para a aula uma hora e meia antes justamente para fazer a lição, com calma, naquela casa maravilhosa e inspiradora. Abri minha mochila; prancheta e lápis na mão e em sete trens escrevi minha redação e ainda a passei a limpo. Quando terminei, olhei o trem e estava quase vazio, num pulo de gato, mochila, lápis e prancheta na mão entrei no trem, mais duas estações e consegui chegar `a aula, eu, o professor e três alunos...!!
Foto: da Web.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Minha Oração



O que posso fazer para merecer Ser?
Eu sei que o melhor é esquecer...
Mas nessa solução,
Não encontro uma saída!
Invoco as forças:
-Ditirambo e ancestrais!
Todas as energias astrais.
Me ajudem a me satisfazer,
com calma, com maturidade
Me despindo da vaidade
Caminho em busca da Verdade!

2005


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tulipas e Eu.


Há uns dez anos, eu cursava o último ano da faculdade de Nutrição no período da manhã. Depois da aula corria para o Estúdio Way of Light, filava um almoço incrível e trabalhava de produtora.
Em um job -como é chamado cada trabalho- este de um Shopping “babado” de São Paulo, eu precisava de uns cem vasos de Tulipas. Não conhecia e nem sabia a forma da flor, quando sentei-me em frente `a minha mesa, com o briefing na mão e comecei a fazer contatos.
Descobri de onde vem a maioria. Falei na prefeitura da cidade, descobri o maior produtor, este me indicou seu maior representante e é aí que eu entrava com tudo. Já chegava arrematando todo o estoque, em flor ou botão.
Negócio fechado, todas as flores fechadinhas acondicionadas em grandes caixas de isopor, tudo isso dentro do meu antigo carro, um gol. Abaixei os bancos, tirei o tampo do porta-malas e virou -otimista que sou- praticamente uma caminhonete.
Não é que, estou dirigindo “minha caminhonete” na Raposo Tavares, meu chefe Sérgio Chvaicer, me chama:
-Tá na escuta?
-Sim, no caminho de volta.
-Como elas estão?
-Lindas, em botão, e parecem ser rosas. Quando olho pelo retrovisor, a visão foi incrível, inesquecível! Todos os botões estavam abertos, escancarados; gargalhando da minha cara! Respirei fundo...
-Sérgio?
-Pim.. Sim?
-Não sei o que aconteceu, mas os botões se abriram, não sobrou nenhum botão.
-Cacete! Fecha o vidro, liga o ar condicionado no máximo e corre para cá.
Eu não tinha ar condicionado. Quando cheguei no estúdio, elas estavam ainda mais salientes.. escancaradas, despudoradas em flor! Com muita calma levei correndo para o estudio frigorífico e em segundos as pequenas se fecharam, voltaram a ser moças tímidas. Não! Melhor, embriões! Ufaa...
Nessa hora, nesse exato momento consolidou-se meu amor por elas. Acho que o primeiro rompante, foi a vista do retrovisor, elas dançando cancan e cantando Piaf no meu carro! E depois elas timidas se encolhendo, se guardando. Que coisa linda! Como a Natureza é perfeita.
Quando as Tulipas foram clicadas (fotografadas), e aprovadas pelo cliente, de novo, estávamos eu e elas. Longe de mim, querer ficar com todas...
Comecei por distribuí-las entre as mulheres do estúdio, depois para os homens presentearem suas mulheres, e por fim, ainda sobrou metade do meu carro de Tulipas. Resolvi levar todas para minha casa e sábado cumprir uma peregrinação entre nossas colaboradoras.
Fim de tarde, sabadão, parei na frente da loja Cleusa Presentes da Rua Estados Unidos, e desci correndo com um vasinho para a Marlene. Quando volto, vejo uma senhora elegante com o nariz metido dentro do meu carro, observando minhas meninas. Ela me olhou da cabeça aos pés:
-Nossaa.., estava olhando e imaginando quem compraria tantos vasinhos de flores de plástico com tantas Espéeciess maravilhooosas...
Com muito prazer, enchi minha boca:
-São naturais, e não tão raras. São Tulipas!
A senhora sem graça, mostrou-me os dentes.
-A senhora pode ficar com um vasinho.
Ela me agradeceu efusiva e foi feliz levando sua flor. E eu voltei para casa, com todas as minhas útimas Tulipas!
Só minhas!!
Foto: arquivo pessoal

domingo, 9 de agosto de 2009

Homenagem ao Zé do Caixão


Inútil túmulo
Nenhum cúmplice
Múmia peituda
No fundo, a Lua

Profundo escuro
Último subúrbio
Na catacumba do túmulo
A múmia fecunda

De túnica fúnebre
Música de espelunca
A múmia cornuda
Assusta Raimundo

Contudo, o ilustre defunto
De capuz, do furto
Rumo ao obscuro
O nunca e a luxúria

Húmus, lúpulo e fungo
Exu, belzebu, urubu
Na catacumba Raimundo nu
Assume sua angústia

Aliteração em U, repare que a tendência é ficar fúnebre! Influência do som U.

Foto: da Web.