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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Resenha Nova!!

“Não quero escutar que me ama”: Contação de histórias enquanto trajetória feminina

Por Camile Veiga

cassandra
Feb 1 · 3 min read

A contação de histórias, inegavelmente, tem a capacidade de agitar os ânimos. Um bom enredo, com personagens cativantes, pode induzir empatia, raiva, tristeza e muitos outros tipos de comoção. Identificação também, ou o reconhecimento da alteridade. Durante séculos, as histórias populares sobre mulheres foram reduzidas a narrativas engessadas, contos de fadas com jornadas heroicas ingênuas e objetivos pífios — o encontro com o
grande amor, perfeito, de faceta única, para o qual as mulheres se doam completamente sem receber nada em troca. As literaturas moderna e contemporânea nos tiram desse lugar indefeso. Mulheres escrevendo conseguem dar voz a si mesmas e a muitas outras, e demonstrar que não somos perfeitas e temos objetivos diferentes.

Ao ler Não quero escutar que me ama (Ficções, 2021), coletânea de textos de Cica Aguirre, o que mais me chamou atenção foi a diversidade de narrativas. Não é fácil sair de si para contar a história de outras. Entretanto, em meio aos contos e poesias da autora, nos deparamos com as histórias de muitas mulheres. Não sei se elas existem ou não, mas com certeza poderiam. E é no encontro com essas mulheres, suas angústias, seus amores, suas curiosidades e suas diferenças, que nos deparamos também com um pouco das nossas.

Os contos de Cica podem ser entendidos enquanto pequenas narrativas do cotidiano. Eles me conquistaram pela curiosidade que suscitam, muitas vezes deixando um leque de possibilidades para resolução das tramas. Como entrar numa peça de teatro no meio do segundo ato; o que veio antes e o que vem depois fica a nosso critério. O diálogo com a nossa imaginação é uma habilidade bem-desenvolvida de Cica, que nos prende ao desejo de compreender esse universo de pessoas que a autora apresenta.

É necessário destacar também o talento da autora para a dramaticidade e para a descrição de cenas comuns. Nem tudo, quando assistido, é um grande acontecimento. Entretanto, qualquer cena banal do cotidiano, quando estamos em contato com o que seu protagonista está pensando, pode surpreender ou gerar reflexão. E acredito que esse seja o potencial dessa coletânea de textos com a qual Cica nos presenteia: contar uma história que,
provavelmente, não seria contada, do ponto de vista do espectador.

Entretanto, as pessoas, quando vistas por dentro, são bem mais complexas e interessantes. E é por isso que a contação de histórias é tão importante, pois possibilita o aprendizado através da escuta da angústia do outro — ou, nesse caso, da leitura.

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