Crônicas, Contos, Pensamentos, Poesias e Teatro

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Pensamentos e Reflexões

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tulipas e Eu.


Há uns dez anos, eu cursava o último ano da faculdade de Nutrição no período da manhã. Depois da aula corria para o Estúdio Way of Light, filava um almoço incrível e trabalhava de produtora.
Em um job -como é chamado cada trabalho- este de um Shopping “babado” de São Paulo, eu precisava de uns cem vasos de Tulipas. Não conhecia e nem sabia a forma da flor, quando sentei-me em frente `a minha mesa, com o briefing na mão e comecei a fazer contatos.
Descobri de onde vem a maioria. Falei na prefeitura da cidade, descobri o maior produtor, este me indicou seu maior representante e é aí que eu entrava com tudo. Já chegava arrematando todo o estoque, em flor ou botão.
Negócio fechado, todas as flores fechadinhas acondicionadas em grandes caixas de isopor, tudo isso dentro do meu antigo carro, um gol. Abaixei os bancos, tirei o tampo do porta-malas e virou -otimista que sou- praticamente uma caminhonete.
Não é que, estou dirigindo “minha caminhonete” na Raposo Tavares, meu chefe Sérgio Chvaicer, me chama:
-Tá na escuta?
-Sim, no caminho de volta.
-Como elas estão?
-Lindas, em botão, e parecem ser rosas. Quando olho pelo retrovisor, a visão foi incrível, inesquecível! Todos os botões estavam abertos, escancarados; gargalhando da minha cara! Respirei fundo...
-Sérgio?
-Pim.. Sim?
-Não sei o que aconteceu, mas os botões se abriram, não sobrou nenhum botão.
-Cacete! Fecha o vidro, liga o ar condicionado no máximo e corre para cá.
Eu não tinha ar condicionado. Quando cheguei no estúdio, elas estavam ainda mais salientes.. escancaradas, despudoradas em flor! Com muita calma levei correndo para o estudio frigorífico e em segundos as pequenas se fecharam, voltaram a ser moças tímidas. Não! Melhor, embriões! Ufaa...
Nessa hora, nesse exato momento consolidou-se meu amor por elas. Acho que o primeiro rompante, foi a vista do retrovisor, elas dançando cancan e cantando Piaf no meu carro! E depois elas timidas se encolhendo, se guardando. Que coisa linda! Como a Natureza é perfeita.
Quando as Tulipas foram clicadas (fotografadas), e aprovadas pelo cliente, de novo, estávamos eu e elas. Longe de mim, querer ficar com todas...
Comecei por distribuí-las entre as mulheres do estúdio, depois para os homens presentearem suas mulheres, e por fim, ainda sobrou metade do meu carro de Tulipas. Resolvi levar todas para minha casa e sábado cumprir uma peregrinação entre nossas colaboradoras.
Fim de tarde, sabadão, parei na frente da loja Cleusa Presentes da Rua Estados Unidos, e desci correndo com um vasinho para a Marlene. Quando volto, vejo uma senhora elegante com o nariz metido dentro do meu carro, observando minhas meninas. Ela me olhou da cabeça aos pés:
-Nossaa.., estava olhando e imaginando quem compraria tantos vasinhos de flores de plástico com tantas Espéeciess maravilhooosas...
Com muito prazer, enchi minha boca:
-São naturais, e não tão raras. São Tulipas!
A senhora sem graça, mostrou-me os dentes.
-A senhora pode ficar com um vasinho.
Ela me agradeceu efusiva e foi feliz levando sua flor. E eu voltei para casa, com todas as minhas útimas Tulipas!
Só minhas!!
Foto: arquivo pessoal

domingo, 9 de agosto de 2009

Homenagem ao Zé do Caixão


Inútil túmulo
Nenhum cúmplice
Múmia peituda
No fundo, a Lua

Profundo escuro
Último subúrbio
Na catacumba do túmulo
A múmia fecunda

De túnica fúnebre
Música de espelunca
A múmia cornuda
Assusta Raimundo

Contudo, o ilustre defunto
De capuz, do furto
Rumo ao obscuro
O nunca e a luxúria

Húmus, lúpulo e fungo
Exu, belzebu, urubu
Na catacumba Raimundo nu
Assume sua angústia

Aliteração em U, repare que a tendência é ficar fúnebre! Influência do som U.

Foto: da Web.